terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Última Turnê do Black Sabbath

Hoje vim aqui fazer uma reflexão sobre o respeito seletivo de muitos brasileiros com relação ao rock. De mais ou menos um mês pra cá, tivemos dois shows importantes no Brasil. O primeiro foi da turnê de volta do Guns n Roses à formação com Axl e Slash. O outro foi, na minha opinião, o mais importante: show no Brasil da última, derradeira, trunê do Black Sabbath.

Primeiro, vou justificar essa opinião de que este foi mais importante, contando brevemente a história do Black Sabbath. É simples de entender e quem conhece a história do Metal sabe o que vou dizer.
Há duas bandas consideradas as criadoras, ou tidas como as principais pioneiras, do que viria a ficar conhecido como Heavy Metal: o Black Sabbath e o Led Zeppelin. O caso da primeira é especialmente emblemático por ela ser uma das primeiras bandas - ou talvez a primeira de fato - a fazer letras de cunho revoltado, falando sobre sofrimento, morte, céu e inferno, etc., ainda mais em tempos de Beatles e hippies, quando a música consumida em geral só falava de paz e amor.

O gênero do metal surgiu inspirado em filmes de terror; ele é como se fosse uma "música de terror". A partir do Black Sabbath foi que surgiram subgêneros de metal tais como black metal, gothic metal, etc. Na verdade, essa influência é bem mais abrangente: digamos que toda essa coisa de crucifixos, caveiras, vestir preto, chifrinho, etc., começou com o Black Sabbath. A título de curiosidade, a ideia de usar crucifixos veio depois de acusações de religiosos de que a banda era satânica, o que não é bem verdade: se for assim, filme de terror também é coisa do demônio. A ideia era só fazer algo que refletisse sobre o lado negro da vida. O resultado ficou legal e eles decidiram seguir nessa linha. O uso de crucifixos foi como que pra espantar as coisas ruins que lhes eram atribuídas por religiosos.

Tecnicamente falando, a banda, formada inicialmente por Bill Ward, Geezer Butler, Tony Iommy e Ozzy Osbourne, revolucionou a forma como se faz rock 'n' roll graças a seu guitarrista, Tony. Ele perdeu a ponta dos dedos médio e anelar da mão que maneja o braço da guitarra, e seu médico lhe deu a notícia de que ele não poderia mais tocar seu instrumento. Mas, Iommy inventou de usar dedais para usar na ponta dos dedos, dedais estes que lhe permitiam tocar, mas afetavam seu jeito fazê-lo. Assim, o guitarrista inventou uma nova maneira de tocar, em vez de fazendo muitos trejeitos no braço, fazendo apenas um ritmo mais enérgico com a outra mão e usando power chords com a mão deficiente. Assim, se criou um estilo de tocar que passaria a servir de base para todos os guitarristas de metal e rock pesado. Por isso, Tony Iommy é colocado por muitos em um status de principal inventor do Heavy Metal.

Ozzy é outro a se destacar. O cantor é literalmente um mutante. Já usou tantas drogas e bebeu tanto na vida que se fosse um ser humano comum já teria morrido, mas ele tem uma espécie de mutação genética que o torna mais resistente aos males que essas coisas causam. Além disso, já sobreviveu a todo tipo de coisa, como um acidente de quadriciclo, um de avião, ou de ter arrancado a cabeça de um morcego atirado por um fã no palco, pensando que este fosse de brinquedo, tendo que tomar vacina antirrábica e os caramba. Outro momento icônico dele é um já mais recente: o sensacionalista reality show feito pela MTV, em que a emissora simplesmente decide televisionar a vida do cantor e de sua família.
Mas não é só por isso que o admiramos. É, acima de tudo, pelo fato de ser um visionário e grande artista, fazendo grandes trabalhos com quem quer que sejam os músicos que lhe acompanham. Ele saiu do Sabbath ainda no final dos anos 70, sendo substituído por Ronnie James Dio, que também se tornaria um ícone, sendo um dos responsáveis por imortalizar o famoso gesto do chifrinho. Ozzy construiu, após essa saída e durante muito tempo, uma grandiosa carreira solo.

A banda tem um total de 19 discos, entre muitas formações diferentes, e enorme patrimônio musical, como já vimos (leia a história toda da banda no Wikipédia). Agora no final, voltaram e lançaram um disco em 2013, o 13. Nesse ano, fizeram uma turnê, que passou pelo Brasil. E em 2016, decidiram terminar a banda e estão em última turnê.

Eu penso assim: é uma pena não ter vivido os anos 70 e 80, época de auge dessas bandas grandes e pioneiras, mas me considero feliz por ter ao menos vivido no período em que elas estiveram em atividade. Isso porque no futuro esse período possivelmente será lembrado como um muito importante - no caso do Black Sabbath, de 1970 a 2016. Imagino se no futuro haverá crianças que me pedirão pra contar como foi ter visto esses artistas ou se o metal terá de alguma forma morrido, assim como outros movimentos morreram... espero que não.

Depois dessa narrativa, imagino que tenha ficado clara a importância da última passagem do Sabbath por terras tupiniquins - fiz isso em parte porque queria explicá-la e em parte porque já vinha querendo fazer um post dedicado à banda. Daí, voltamos à tal reflexão mencionada no começo do texto. No show do Guns n Roses, houve uma mídia tão grande em torno do evento a ponto de o Balanço Geral do RJ ficar o dia inteiro falando sobre isso, entre outras coisas. E eu estava me perguntando: será que a RECORD vai dar tanta atenção ao show do Black Sabbath? Por que a atenção recebida por bandas como Guns n Roses, ou Aerosmith, etc., na mídia não é a mesma a bandas como Slayer, Metallica, etc.? Aliás, dito e feito: passou o show do Black Sabbath e só o que vi na televisão foi uma entrevista com o Ozzy no Fantástico, mas pode ter tido mais coisa que eu não vi.

Pode parecer que estou fazendo birra porque o Guns recebeu mais atenção do que o Sabbath, mas não é o caso - também sou fã do Guns e poderia fazer outro post como este sobre a banda, e talvez faça mesmo um dia. Este post é, além de para falar sobre o Black Sabbath nesta ocasião importante, para refletir sobre uma certa negação que existe do brasileiro comum ao rock. Há um respeito a quem fica falando mais de amor, a coisas mais "mídia", ou talvez mais "café com leite", enquanto às outras por vezes se nega o reconhecimento, ou se diz coisas como "essas músicas aí eu gosto do ritmo mas não da letra". Claro que se diz isso sem nem entender tais letras.
Logicamente, tudo bem gostar-se de uma banda e de outra não, mas tem gente que diz que não gosta de rock, e até que odeia rock - só que curte Red Hot Chilli Peppers, Linkin Park... tenho uma má notícia: você gosta de rock sim!

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