É a Falácia do Escocês de Verdade. Ora, mas o que é essa falácia de nome esquisito? Você vai ver que é simples.
Imagine um escocês. Você tem uma imagem, muito folclórica, do escocês na sua cabeça: um carinha de kilt (aquele saiote), com uma gaita de fole, talvez ruivo, também. Essa é uma imagem padrão que você tem de um escocês, e seria esse o "escocês de verdade". Mas será que todo escocês só anda de saia, todo escocês toca gaita de fole e não coloca açúcar no mingau (são muitos elementos curiosos na cultura escocesa)?
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Esses aí sim são escoceses! |
Talvez você já tenha percebido o sentido dessa falácia. A lógica é essa, mesmo: "É escocês e não usa saia nem toca gaita de fole? Poser!".
Ela é usada pra generalizar coisas que a pessoa que é de um grupo supostamente deve fazer, senão ela não é daquele grupo de verdade.
No post, eu citei essa falácia quando diferi feministas em dois tipos (e como foi que aquele post passou a ser sobre feminismo? Ele não era sobre apropriação cultural? Enfim). Mas, peço - e já fiz aquilo pedindo - perdão por talvez estar caindo nesta falácia. O caso é que existe atualmente um termo, "femistas", que usam pra distinguir feministas entre as "feministas de verdade" e as que não são de verdade, que seriam "más feministas", por n razões.
Eu não tenho conhecimento suficiente sobre feminismo pra saber se "femismo" sequer existe, então não vou entrar nessa discussão, mas tendo a achar que não, justamente por causa da falácia do escocês de verdade. Isto porque o que você deve ter em mente, à luz da reflexão sobre esta falácia, é que a feminista que você classifica como "femista" também é uma feminista.
Já entrei nessa discussão anteriormente: pelo menos desde que "o povo acordou", lá em 2013, sempre tem gente chegando agora nos debates, e, sem bagagem racional e experiência pra fazer boas reflexões e argumentos, debatem usando jargões, generalizando, usando argumentos puramente de senso comum, com o que todo mundo do movimento tá falando na internet atualmente, enfim. E, com as feministas, não haveria de ser diferente. É só isso que acontece com o pessoal de todos os movimentos atualmente, seja feminismo, seja ateísmo, seja luta racial, enfim. Mas, isso sozinho não é suficiente pra derrubar esses argumentos; até porque, entre outras razões, nem sempre o senso comum está errado (se você não entendeu esta afirmação, um dia, quando estiver a fim, explico ela).
E a pessoa que usa maus argumentos, ou argumentos do senso comum, ou usa argumentos e tem atitudes que você acha que uma pessoa daquele movimento não deveria ter, também é feminista, também é atéia, etc.
Não se pode excluir a pessoa só porque você não gosta do que ela disse ou faz. Não existe essa de "ateu de verdade" - porque assim você estaria atendo aquele grupo a um pacote de ideias fechado, no qual qualquer coisa que, pra você, não está dentro dele não entra, e isso é nocivo ao movimento. É melhor ouvir aquela pessoa e, se necessário, ajudá-la a construir melhor suas opiniões do que excluí-la.
Acrescentando, essa falácia não existe só nesses debates. Uma coisa que se vê muito em termos de sociedade é a presença da falácia do escocês de verdade. Na verdade, eu a usei aplicada a um exemplo, mas o conceito dela é bem mais amplo. Você pode substituir o "escocês de verdade" por "homem que é homem" (homem não chora), "cristão que se preze", "roqueiro de verdade" (Vs poser), enfim.
Este é o sexto post da minha série sobre falácias. Veja todos os outros clicando aqui.
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