sexta-feira, 17 de junho de 2016
O Analfabetismo Funcional e a Treta
- A.
- Então deixa eu ver se entendi o que você falou... B?
Dizem que 90% das discussões em redes sociais decorrem da má interpretação de textos.
Não sei em quantas situações já me peguei falando A e as pessoas entendendo B. Isto pode ocorrer por vários motivos.
Primeiro, talvez a pessoa não queira aceitar o que eu disse. Ouve A mas queria que o que eu disse fosse B, talvez porque, por algum motivo, não goste de mim, não goste do que eu defendo, etc.
Veja, por exemplo, JEAN WYLLYS E OUTROS, GAYZISTAS MOSTRANDO SUA, RAIVA DOS CRISTAÕS!!!!!!!!!1,,
Viu o vídeo, e os vídeos relacionados? São claras demonstrações de que essas pessoas são o DEMONIO AGINDO e querendo instaurar CLARAMENTE UMA, DITADURA GAYZISTA CRISTOFORBICA ou nÃO????
Não. Essas cenas foram retiradas de algum debate do movimento LGBT e usadas deturpadamente para dizer o que o youtuber conspiranóico (é assim que a gente chama internamente) queria que fosse. O fato de tanta gente comprar esse ódio às figuras do vídeo é revoltante e diz muito sobre a inteligência do nosso povo, mas fica pra uma outra conversa.
Um outro motivo é o assunto deste post. Analfabetismo funcional.
Pessoalmente, quando escrevo, parto do princípio de que não estou escrevendo para um analfabeto funcional. Eu sempre penso: "ah, ele vai entender o que eu quis dizer". Mas não entende; parece que às vezes superestimo a capacidade de algumas pessoas.
Por exemplo, me lembro de uma vez, em que, em um grupo de Whatsapp, o assunto foi para a autonomia da mulher, e eu ia dizendo: "A sociedade espera submissão da mulher, por isso é tão bom e tão importante mulher participando, e pra isso tem que ter os seus direitos, etc."
Mas aconteceu que na hora que eu escrevi "A sociedade espera submissão da mulher", pronto. Antes de eu terminar de falar, já tinham caído em cima de mim. Entenderam que eu quero que mulher seja submissa. Nesse caso, só fui interrompido, mas consegui terminar de falar e ser entendido.
Depois, me disseram assim: "você precisa se expressar melhor."
Ora, mas eu disse exatamente o que eu queria dizer. Sou eu que preciso me expressar melhor ou as pessoas que precisam aprender a ler?
Sem falar que se todo mundo que se expressa tivesse a obrigação de ser tão claro que até o mais retardado entenda, não poderíamos ter poesia, música, ou outras formas de falar que tenham significados implícitos, que precisem de interpretação.
Então, não: a culpa de você ler B não é de quem escreve A.
Uma coisa é relativizar demais e abrir margem para interpretações diferentes. Outra é falar claramente "laranja" mas você, por qualquer motivo que seja, entender "tangerina".
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