quinta-feira, 14 de julho de 2016

Falácia do Espantalho

Ainda sobre falar A e entender B.

A Falácia do Espantalho acontece quando a pessoa ignora a posição do outro no debate e a substitui por uma versão distorcida. Esta distorção pode ser proposital, o que caracteriza má fé, ou acidental, provinda da má interpretação.

Queimar um espantalho é muito mais fácil.

Esses dois tipos de interpretação já foram abordados num post aqui mesmo, mas o que não foi abordado foi a má fé em si. Portanto, vou apenas citar alguns casos em que é usada a falácia do espantalho por motivos enraizados no preconceito.

Um exemplo muito usado por aí é o pensamento de quem é contra o aborto. Tais pessoas argumentam com base num pensamento de que quem quer o aborto legalizado o quer em defesa de uma sexualidade irresponsável: a pessoa poderia fazer sexo à vontade, sem se preocupar em se guardar ou mesmo em usar preservativo, já que seria só abortar depois. 
Mas este é um ataque ao espantalho, e não à questão real. Essa pessoa, intencionalmente ou não - mas normalmente é por motivo de preconceitos -, interpretou erradamente a argumentação alheia: a questão não é essa, e sim que não se deve negar, seja por que for, o direito da mulher de corrigir um erro, ou de abortar por qualquer outro motivo que seja.

Outro exemplo é o de uma discussão política que estourou num passado recente, entre petistas e tucanos, e um dos grandes espantalhos usados pela direita: o Bolsa Família. Pessoas que são contra, pelo mesmo motivo de preconceito, ou talvez de mera ignorância, tratam esse benefício como uma espécie de "desculpa pra vagabundo fazer filho e não trabalhar".
O Bolsa Família é concedido a famílias em situação de extrema pobreza, que certamente não vão passar a viver de mordomia sem ter que trabalhar por receberem R$85,00 por mês. Ele também é concedido a familias com grávidas, crianças pequenas ou adolescentes e que sejam pobres. Famílias estas que certamente também não passarão a viver na mordomia só porque passam a receber um valor mensal de menos de quarenta reais, que é destinado a arcar com custos básicos.

Nem eu nem ninguém parece conseguir pensar em exemplos mais perfeitos ou contundentes dessa falácia quando quer, mas basicamente é esse o espantalho: uma outra figura a se atacar, convenientemente mais fácil de derrubar do que o argumento ou argumentador real. Esta falácia é a prática de desvirtuar um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

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